Reflexão da Semana

A paixão da sua vida
( Marina Colasanti)
Amava a morte. Mas não era correspondido.
Tomou veneno. Atirou-se de pontes. Aspirou gás. Sempre ela o rejeitava, recusando-lhe o abraço.
Quando finalmente desistiu da paixão entregando-se à vida, a morte, enciumada, estourou-lhe o coração.

segunda-feira, 27 de março de 2017

[Resenha] 70 vezes 7 - Drika Duarte

Finalmente, depois de um ano trabalhando com Drika, li um livro dela. E cara... que livro!
70 vezes 7 é um livro de poemas, publicado em 2010. Em sua obra, a poetiza trata de
diversos temas, partindo da premissa da resposta de Jesus sobre o perdão.

Vamos à estrutura

Os poemas foram pensados em sete versos. São setenta poemas de sete versos cada, a maioria em duas estrofes - um quarteto e um terceto; outros em três estrofes ou quatro estrofes. Os versos são livres e a cada nove conjuntos de versos, a poetisa escrevia um acróstico reforçando a ideia do perdão.
O livro é muito bem acabado, com uma capa interessante. Os poemas estão ordenados seguindo os números romanos.

Temáticas recorrentes

Os poemas não trazem somente a temática explícita do perdão, temas como respeito ao planeta, espiritualidade, morte, essência da vida são bem visíveis. Um dos que mais me tocaram falava sobre o que eu interpretei como a perda de um bebê. Lindamente triste e pesado. Divino.

Poemas prediletos

Me apaixonei por vários poemas, mas escolhi os três que mais me tocaram para poder colocar aqui.  

XII

Ah coração, conhecedor de injúrias
Da lágrima de paixão de um um olhar dilacerador 
Ah coração, quando traído tu és a dor
Com que o traidor formula a falsa jura!

Ah coração, esquece que foste enganado
Quem engana já está por si atormentado
E quem perdoa já de ter um coração alado.

[DUARTE, Drika. 70 vezes 7. Natal: Drika Duarte, 2010, p. 39.]

XIX

Quando senti o gosto da fome
Perdi o senso, esqueci o nome
Que terias neste mundo cruel
E assumi a dor de um coração infiel. 

Hoje, cada lágrima que chorei
Foi para regar o solo de onde arranquei
A flor mais bela que em mim gerei.

[ p. 53]

XXXVIII

Um dia a pele se enruga, a mão envelhece, 
O impulso jovial não mais se reconhece
Nos cabelos brancos em que a sabedoria se ergue...

Os anos angariados trouxeram solidão
E a simples alegria da doce sensação
De que a vida faz chorar ensinando a sorrir
E a amar todos aqueles que não te querem aqui.

[p. 91]

Minha opinião

Marcações que fiz ao longo da leitura
Não sou uma leitora frequente de poemas, mas sei apreciar quando a poesia emana pelos versos. Fiquei encantada com quase todos os poemas desse livro, muitos me emocionaram de maneira única. Alguns eu não gostei tanto, mas esses foram exceções. Ainda que sejam delicados em sua maioria, a análise minuciosa de algumas leituras mais aprofundadas mostram elementos antes despercebidos. O livro tem um ritmo, um perfume... é estranho de explicar como me tocou.
Aliás, mais do que um livro sobre perdão, acho que Drika conseguiu produzir um livro sobre a esperança...
Num mundo tão ardiloso como o que vivemos, ler algo sobre esperança e perdão desperta reflexões tão profundas e, ao mesmo tempo, encantadoras: que mais é o perdão que a esperança de aprender com os erros... a esperança de não mais errar?

sábado, 14 de maio de 2016

Em um outro universo, talvez


Todos sabiam o que ele era: alto, bonito, rico, filantropo... estuprador. Ser estuprador era um daqueles detalhes relativos – se você fosse homem, pensaria apenas que a tal garota que alegava ter sido estuprada estava querendo fama (de puta) e dinheiro (e o que mais alguma mulher iria querer?); sendo uma mulher de verdade (não aquelas vagabundas que num gostavam de pau ou que até gostavam, mas não se limpavam como uma mulher deve fazer... cheia de pelos, urgh), apoiaria o que a nossa nobre sociedade afirmava, ou seja, pensaria apenas que a tal garota que alegava ter sido estuprada estava querendo fama (de puta) e dinheiro (e o que mais alguma mulher iria querer?).
Várias meninas já tinham ido à delegacia para denunciá-lo. A mídia até fazia algum estardalhaço, mas certamente acontecia o que sempre acontece quando o criminoso é rico: as provas se vão, os advogados se articulam, os juízes são comprados, a mídia distorce e voilà: de vítima a mulher se torna mais uma interesseira e Devitto se torna mais um pobre coitado.
O mais legal não era a comoção quando ele ia preso, mas a festa que ele promovia após a soltura. Essa também era de arromba! Só essa semana ele foi “conduzido à delegacia para esclarecimentos” duas vezes. A primeira tinha sido uma outra garota que ele apalpara dentro do ônibus – ele gostava de subir nos ônibus para admirar as bacanudas que se mostravam ou se roçavam nele. A outra, por abordar simpaticamente uma vagabunda na rua, uma dessas putas de shortinho curto de seus quase 18 anos na cara, que ficou se oferecendo para ele enquanto pedia parada no ponto de ônibus. Ambas foram descartadas em poucos minutos pelo amigo de Devitto, o delegado Brasilit. Inclusive, Brasilit fazia questão de comparecer a todas as festas: era ótimo ter como argumentar que o delegado conhecia a fama da moça que o estava acusando.
A festa dessa vez era temática: “Meus doces 15 anos”, em homenagem à piranha do shortinho curto. Ela foi até convidada de honra, olha que legal, mas não pôde comparecer porque tinha se matado, coitada. Mulher é mesmo um bicho fraco, né? Num aguenta uma brincadeirinha... Tudo estava às mil maravilhas. Seus amigos todos estavam com suas escolhidas – elas quisessem ou não. Tinha deles que estavam com três meninas para alternar entre si... prazer triplo para eles, tripas para elas.
Devitto tinha escolhido Duênia. Linda no vestido soltinho vermelho puta, rosto negro e perfeito... uma deusa. Levou-a para o quarto, ela muito à vontade com a situação. Ele não gostou. Só tem graça quando elas imploram para ele parar.
- Como você gosta? – perguntou enquanto tirava a roupa.
Duênia corou.
- Não quero nada muito violento... quero uma trepada mais rápida.
- Algo não muito violento... e rápido... – sorriu. Então seria lento e violento. Perfeito.
Ele arrancou o vestido dela e, pela primeira vez naquela noite, o medo invadiu o quarto. Cambaleou. Ambos caíram na cama.
O primeiro filete de sangue saiu do nariz e apareceu lençol. O urro ensurdecedor fez as paredes vibrarem. Até as células se aceleraram! Começou a trabalhar. Primeiro separou as pernas, amarrando nas braçadeiras de couro firmemente presas à cama. A cena era linda demais: a pessoa se borrando literalmente de medo. Os pensamentos ficam tão claros: “Por que isso está acontecendo?”, “Por que comigo?”, e o que mais gostava: “Alguém pode me ajudar? Socorro!”. Era tão mais legal assim!
Começou abrindo o estojo com suas ferramentas de sempre. Escolheu o chicote com esporas... era o que deixava as melhores cicatrizes. Começou a passar no corpo. Primeiro devagar, depois para tirar sangue. O primeiro naco de pele que saiu demorou a sangrar. Melhor assim, mais diversão. O pandemônio começou também nas outras suítes. Gritos, pedidos de socorro, urros... de nada adiantava! O próprio Devitto projetara aquelas paredes. Dentro da casa se ouvia tudo – era um charme a mais, já do lado de fora nada se ouvia... Era a paz necessária.
O sangue empapava seu corpo. O lençol, então, parecia ter sido sempre daquela cor de sangue seco. Depois de algumas horas, Duênia já estava quase morta e o próprio Devitto tinha desmaiado há pouco tempo... estava sendo mais cansativo do que esperara. Sempre ganhava um novo fôlego quando ela tentava segurar seu braço. Enfim, o cansaço lhe dominara.
Num último esforço, Duênia pegou o alicate de cutícula – aquele pequeno, mas afiado – e começou a cortar o que restava do pênis de Devitto. O sol começara a nascer e o quarto ia se alaranjando e avermelhando de forma suave e gradual. Era agradável ver aquilo. Era nesses momentos que ela mais lamentava um dos olhos ser de vidro.
Terminou o serviço e Devitto já estava morto havia algum tempo. Não tinha problema, sabia que ele tinha sentido cada golpe. Os olhos azuis do homem se arregalaram quando arrancara o vestido dela: o vestido era folgadinho para esconder as diversas bolsas pretas que envolviam o corpo da mulher. Ela era magérrima, pele cheia de cicatrizes. Quando ele olhou atônito para seu rosto, percebeu que um dos olhos não se movia rapidamente como outro. O pior de tudo foi saber que conhecia aqueles dentes resinados. Ele mesmo quebrara quatro deles com um soco.
Duênia tinha sido uma das primeiras vítimas de Devitto, oito anos antes. Na época, ela tinha 16 anos e era uma modelo em ascensão. Ele tinha conseguido se aproximar dela por meio de uma agência de propagandas e foi necessário muito dinheiro para calar sua família. Agora aquela menina se tornara uma mulher cheia de cicatrizes, mas com o olhar obstinado. Quando Devitto percebeu, já era tarde demais. Ela injetou nele alguma substância que aumentava as sensações de dor e prazer em sua pele. O golpeou no nariz e ele quase desmaiou de dor, paralisado na cama. Sentiu a mulher se desvencilhar dele e amarrar seus pulsos e tornozelos. Quando ouviu os urros nos quartos ao lado, constatou que todos os homens que ali estavam iriam morrer.
Quando finalmente amanheceu, todas as garotas saíram dos quartos e sorriram umas para as outras. Aqueles vermes tinham sido eliminados! Se abraçaram, choraram juntas, se consolaram. Agradeceram mais um final feliz. Para elas. O mordomo ajudou a saírem da casa sem serem vistas... Duarte tivera a filha ceifada por um daqueles trogloditas.
Nesse mundo de dor e sofrimento, as mulheres sofrem com diversas privações. São políticas públicas que não ajudam, homens que maltratam, mulheres que já sofreram tanto com esse sistema que sequer se sensibilizam com as agressões sofridas... mas não elas. Duênia foi a primeira a abrir em uma rede social uma espécie de grupo de ajuda para mulheres que tinham sido abusadas, mas que seus abusadores eram ricos demais para serem presos. A rede foi crescendo e muitas das mulheres que participavam eram ricas, o que ajudou a financiar as amazonas. Aprenderam a lutar, tinham acompanhamento psicológico, psiquiátrico e o mais importante: tinha acesso à sororidade.
A primeira delas a matar foi Dehíse, quando sequer fazia parte do grupo. Duênia pode ter sido a criadora do grupo, mas a estrategista era Dehíse. Ela pensava em tudo: o que vestir, como agir, o que dizer se for pega... Uma mente insuperável, com marcas que só a dor consegue deixar. Matar não era punição suficiente, então elas faziam estupradores serem presos pelos outros crimes que cometiam.
Naquela noite, 22 homens acusados de estupro tinham sido eliminados com sucesso. Cada homem daquele já tinha matado em vida mais de 30 mulheres, fora as que se suicidavam. Era por essas mulheres que cada uma das meninas lutava.

Quando chegaram em casa, uma fila de mulheres esperava. Ainda tinha muito trabalho a fazer e elas não fugiam da responsabilidade. A vida de cada uma daquelas pessoas importava. Quem melhor para lutar por elas que elas mesmas?

sábado, 7 de maio de 2016

Sobre tudo, sem falar nada direito

Hoje estou fazendo dois meses de Estado. Ainda não recebi nenhum centavo, então nada de festa para mim, mas já aprendi tanto... se eu tinha alguma dúvida de que eu mereço ser educadora, essas dúvidas se foram.
Os primeiros dias foram difíceis: parecia que eu tinha voltado no tempo e desaprendido a dar aula. Me lembrei de  pessoas falando:

- Você precisa se impor! Se eles não lhe respeitarem a culpa é sua!

Laryssa? Impondo alguma coisa? Sério que eu pensei que isso seria uma boa ideia? Kkkkkkkkkk

Mas, fui lá. Rígida! Dura! Dois minutos de aula e eu só queria sair correndo da sala. Eu não acreditava nas minhas próprias palavras, quanto mais os alunos. Meti moral! Pela primeira vez na minha vida eu gritei; coloquei aluno pra fora... super imponente. Desmoronando por dentro.
As turmas eram difíceis (doce ilusão pensar que alguma turma é fácil... ah, eu tenho tanto a crescer ainda...). Mais difícil era lutar comigo mesmo.
Eu nunca vou esquecer do dia em que eu sai despedaçada de uma das minhas turmas e, na sala dos professores, duas pessoas que eu nem sei o nome me deram o conselho que eu precisava: conquiste os alunos pelo amor, não pela regra! Lembrei automaticamente dos conselhos de um dos meus amigos, também do estado, Márcio: você precisa ganhar o respeito sendo você.

Então? Partiu ser eu mesma.

Ficou menos difícil, bem mais prazeroso, mas ainda tenho dificuldades: em uma das escolas a turma é muuuuuito grande e indisciplinada. Não se interessam por filme, música, literatura... nada do que eu tenha levado dá certo. (aceito sugestões). Ah, nessa mesma turma, uns 15 alunos não sabem ler nem escrever. Aliás, como diabos eu posso encarar minhas turmas, cuja maioria é formada por meninas e não poder falar sobre machismo? Principalmente quando eu mesma fui vítima EM SALA DE AULA de uma “brincadeira” machista? A culpa do assédio que aconteceu na minha sala, comigo, no meu corpo, é de quem? E ainda querem que fiquemos caladas... que essa história de falar sobre gênero em sala de aula, só se for gênero textual! Falar sobre machismo? MISOGINIA? Feminicídio? Homofobia? Jamais!!! Enfim... isso é papo pra outro momento.

Descobri coisas que eu nunca tinha pensado na minha vida: diretora de escola realmente preocupada com o aluno? Diretora de escola que defende o professor quando ele tá certo? Sororidade? Cara, lindo demais!

Tive certezas sobre a importância de uma educação de qualidade... sobre como a educação modificar as coisas ao redor, mas sem ser a salvadora da pátria: não precisa ter essa pretensão.

Enquanto pessoa, descobri que empatia é mais importante que simpatia: se colocar no lugar do outro é tratar o outro como igual, como pessoa, como alguém com potenciais diversos. Empatia pode trazer o melhor da pessoa para fora da casca da dor...

E ontem recebi de presente algo que todo educador quer: uma turma de 21 alunos v-i-d-r-a-d-a na aula! Todos os alunos participaram, todos os alunos saíram da sala sabendo identificar e compreender a importância dos sujeitos na sintaxe e na vida. Tem coisa melhor?

Em dois meses de aula no Estado descobri tanto sobre o mundo e sobre a vida. Acabei de lembrar de Adélia Prado “dor não é amargura”... nunca vivi algo tão real quando esse verso. Que daqui a dois meses, dois anos, duas décadas, dois séculos (ei eu posso reencarnar, uai :p) eu possa olha para minha vida e sentir exatamente o que sinto agora: gratidão e amor – por mim, pelos meus alunos e por minha profissão.



Uma excelente tarde a todos e beijooooos da tia Lary \o/

sábado, 19 de março de 2016

A mídia, o terror e as redes sociais

*texto escrito em 2015, quando aconteceu uma fuga em massa do presídio de Alcaçuz. Vou manter o original aqui, sem terminar o texto mesmo, para deixar registrado o pânico que senti e como boatos são péssimos.

Terror. Medo. Ameaças. Fogo. Ônibus tombado. Correria. 

                Ontem, dia 16 de março de 2015, Natal/RN virou o palco de um filme de guerra ,ou de zumbi. O medo imperou e ganhou força com o passar dos minutos. Foi de arrepiar, mas não de uma forma legal. Várias pessoas ficaram sem transporte nessa noite. Foi um convite ao pandemônio. O frio na barriga era real, o suor escorrendo na espinha era letal. 
        A massa encarcerada fez com que um ônibus a cada hora, mais ou menos, fosse incendiado como forma de protesto. Encontraram uma casa, perto do presídio de Alcaçuz, com o material pronto para facilitar uma fuga. Os presídios orquestraram um motim em várias cadeias do Estado, o que só fez a população ficar ainda mais assustada.
           Mas uma coisa merece ser dita: o caos e o terror não foram somente culpa dos ônibus e do PCC. A onda de medo que se espalhou como fogo em pólvora veio do celular! Muitos áudios, vídeos, fotos e meias verdades se alastraram com uma velocidade assustadora... E foram essas notícias que avisaram a todos que algo muito perigoso estava acontecendo na cidade. O problemas maior é que muitas pessoas começaram a gerar, talvez até sem querer, boatos. E pronto: O caos imperou.
        A coisa mais importante aqui é o fato de que as redes de televisão, aquelas sensacionalistas e que geram falsas notícias SIMPLESMENTE não se pronunciaram nos momentos que deveriam. A única fonte de informações era a rede social Whatsapp... e a galera se aproveitou disso!

Passarinha [Resenha de livro]

" É assim desde O Dia Em Que A Nossa Vida Desmoronou e papai bateu a porta do quarto de Devon e encostou a cabeça nela e chorou e disse, Não, não, não, não, não." (posição 107-8)
Pois é, eu li - e chorei horrores - com o livro Passarinha, de Kathryn Erskine. Sabe aqueles livros que parecem que caem do céu para você? Esse foi o caso de Passarinha na minha vida. 

Passarinha - Kathryn Erskine (8565859134)
Gênero: Romance,  Ficção Fantástica,  Literatura Estrangeira,  Literatura Infanto Juvenil
Subgênero: Literatura Juvenil / Adolescente, Romance Estrangeiro
Autor: Kathryn Erskine
Editora: EDITORA VALENTINA LTDA



A história de Passarinha é algo muito triste, mas, ao mesmo tempo, muito linda, muito inocente. Para contar essa história sem contar spoilers (eu não tenha nada contra spoiler, até gosto), vou contar um pouquinho sobre a autora e sobre como esse livro nos é mostrado.

Erskine foi muito afetada pelo massacre de Virgínia Tech University, em abril de 2007 e foi com essa empatia que Erskine nos colocou na pele de seus personagens. E, vai por mim, a empatia que faltava a Caitlin, a protagonista com Asperger dessa história, vem de sobra para os leitores. 

Passarinha mostra o dia-a-dia de uma comunidade escolar que foi estraçalhada por um massacre como o de Virgínia Tech... Mas, ao invés de mostrar como a vida da comunidade precisou continuar, a autora nos mostra tudo do ponto de vista micro para o macro.

Como assim, Laryssa, ficou doida?

Explico: Enquanto os jornais, revistas, etc, nos trazem a visão macro - aquela que explica os fatos e introduz depois as pessoas como vítimas e criminosos -, Erskine nos coloca na visão micro: a priori vemos tudo na visão de Caitlin e, pela visão dela, compreendemos a situação macro. Foi uma experiência muito gostosa e angustiante. 


----

Caitlin perdeu o tradutor de tudo que havia no mundo: seu irmão. O pai, dilacerado pela violência sofrida, não consegue raciocinar de maneira coerente (e nem poderia) e meio que deixa a filha de lado. A garota não consegue, de fato, entender porque o irmão dela não volta logo... e isso vai partindo nosso coração.

Não vou aqui entrar em mais detalhes e tirar de vocês a maravilha de ler essa obra, mas preciso falar de dois pontos que mais me chamaram a atenção.


  1.  O PAPEL DA PSICÓLOGA
A psicóloga da história teve um papel muito importante na história e no próprio amadurecimento da protagonista. Ela meio que conseguiu ajudar a guria a tentar compreender como funcionavam as coisas a sua volta. A psicóloga vem representar a importância de um especialista na vida escolar. Psicólogos, professores, diretores, etc, todos tem o estudo necessário (dentro de suas áreas, logicamente) para auxiliar os alunos. 

Ainda nessa parte, é engraçado perceber como coisas que os adultos falavam para ela não faziam O MENOR SENTIDO. Por exemplo, quando se dizia que tal coisa era para melhorar sua educação, ela captava somente a parte do "sua educação", sem compreender o que isso significava. Outro exemplo está na expressão usada por ela para designar o momento em que o irmão morreu " O Dia Em Que A Nossa Vida Desmoronou"  é como se esse fato tivesse transformado o dia em que aconteceu  em um símbolo, algo mais forte... não sei explicar. É interessante entender essa visão de mundo quando, no meu caso, tive vários alunos com autismo, por exemplo. Isso que ajudou a refletir melhor sobre meu papel enquanto professora e educadora, e me fez querer ser alguém melhor \o/

2. O FINAL CLICHÊ E ESTUPIDAMENTE OTIMISTA

Sem mais informações. A escritora cagou o final e colocou como se tooooooooooooooodos os problemas da COMUNIDADE ESCOLAR tivessem sido resolvidos assim, num passe de mágica!


----

Enfim, gostei muuuuuuito do livro (com exceção do final) e recomendo para todos, em especial para pais e professores/educadores.

Beijos da tia Lary, tchau!

sábado, 2 de janeiro de 2016

Metas de leituras para 2016

Nhai seus lindos, tudo beleuza de Creusa?

A tia Lary deveria ter postado isso ontem, dia primeiro, mas ainda levemente debilitada da bactéria assassina que se apossou de mim no fim de ano: o quase triste fim de Laryssa Quaresma... Mas tô viva! Vamos em frente!

Eu dei uma olhada  nos vídeos dos booktubers que eu sigo, tipo a Tati Feltrin e acabei por montar minha lista de livros para 2016 com um cheirinho de guardado... sabem aqueles livros que você até já leu mas não lembra mais, ou aqueles livros que você comprou e eles entraram num buraco de minhoca e fugiram do mesmo plano que você quando ia procurar algo legal pra ler na sua estante? Então, esses mesmos.

Grande parte dos livros eu já tinha, o que espero que seja uma leve economia no bolso da pobre desempregada :p. Eu pretendo fazer sorteio quando eu num tiver com saco para escolher o livro, mas enfim, sem mais enrolações! Vem aí

Os livros maravilhoso para serem lidos em 2016 da tia Laaaaary

Título enorme, mas vocês perdoam.


  • A montanha mágica (Thomas Mann): Lembra que eu falei de Tati me influenciou? Pois é, esse foi indicação dela! 
  • Harry Potter - Saga completa (J.K. Rowling): Não é que eu só tenha lido umas 30 vezes a saga completa, mas todo ano esse livro está na minha lista interna... Acho que esses foram os livros que mais li EVAAAR! 
  • O nome da rosa + caderninho extra que veio com o livro + Diário Mínimo (Umberto Eco): Pois é, a patroa enlouqueceu de vez! Não bastar ser um livro difícil, ela precisa adicionar mais livros de Eco. Mas tá tranquilo.
  • Os miseráveis (Victor Hugo): Sim. Sem mais.
  • Cem melhores poemas brasileiros + Poética (Ana C.): Vamos ler poesia brasileira? VAMOS!
  • 1984 + 1q84 (Orwell + Murakami): Leitura conjunta para entender melhor como um influenciou o outro.
  • Meus livros de contos de fadas (são muitos, vou fazer um post só para eles depois) + Livros de análise de Nelly Novaes: Quem seria Laryssa sem sua coleção de livros de contos de fadas? Qualquer pessoa. Mas ai de você se disser de contos de fadas é coisa de criança: te provo por a + b que não são e ainda destruo sua infância, ouvi dizer... kkkkkkkk (A lista de pobres coitados que tiveram a infância destruída por mim é bem grande. Curta se você foi um deles!)
  • Pessoa + Biografia: Cara, tá acabando. Eu tenho uns livros de Pessoa aqui e a biografia dele. Vou juntar com as incríveis análises que a professora Conceição Flores mostrava pra gente em suas aula de literatura portuguesa (tenho tudo anotado fessora, eu juro. Aliás, Ana C. foi influência de outra professora, Ana de Santana. Beijo procês!)
  • Hibisco Roxo: Olha, esse foi outro que foi influência de Tati Feltrin. 
Chega né? 

Isso significa que não vou fazer mais nada minha vida? Lógico que não significa isso! 

Vou conseguir ler outras coisas? SEMPRE!!! kkkkkkk

Pode ser que o Café, canetas e contos vire um canal no Youtube? SERÁ? Cenas dos próximos capítulos!

Bom, por enquanto é isso. Eu pretendo fazer um trabalho de postar aqui no blog os trechos que mais gostei e comentarios sobre, fora as resenhas. 2016 vai ser massa!!


Beeeeeeijos da tia Lary!




domingo, 23 de agosto de 2015

Daniel é só mais um filho da puta

Apesar da noite anterior, tudo seria bom nesse novo dia. O fato é que quando Daniel acordou, sentiu que tudo estava diferente. A paz reinava na casa. Os raios de sol adentrando no quarto pelo janela deixaram o quarto branco ainda mais acolhedor e iluminado, como se a luz viesse dele, não do astro-rei.
Na cama, deitada ao lado de Daniel, estava Diedra. Linda e doce, pela alva, quase sem sangue correndo pelas veias, ela completava a imagem como se fosse um quadro pintado por algum pintor famoso. Ela era excepcional, sem dúvidas: incrivelmente linda, ardentemente sensual e habilmente calada. Perfeita. 
Ele descobriu que a amava. 
Um casal de capa de revista. Daniel faria tudo para ficar com ela, todos admiravam essa atitude dele. A priori, quando ele começou a se afirmar como fazendo parte de um relacionamento não monogâmico, seu ciclo de amigos, claro, ficou em choque. Isso não era algo comum, era coisa ou de riponga ou dessa galera mais pra frentex. De qualquer maneira, quando ele explicou para as pessoas ao seu redor como era o relacionamento, seus amigos ficaram muito satisfeitos. Com certeza era algo proveitoso...
Explicar como funcionava o relacionamento também foi algo primordial para o relacionamento propriamente dito. Diedra nunca se relacionara dessa maneira e era esperado que Daniel explicasse e que ela aceitasse. 
Tudo corria às mil maravilhas. Ele lembrava como praticamente só teve bons momentos ao lado de Diedra. E das outras meninas também. E alguns garotos, quando o vinho batia. 
Então, Diedra pisou na bola.
Tudo foi rapidamente resolvido, ele não chegou a sofrer...
Não entenda mal, ele não era de todo perfeito.Tinha ainda um pouco do ciúme que a sociedade imbrica na gente, mas entenda que ele não espera pegá-la no ato, como acontecera ontem. Não... Ocorreu por acaso e por isso tinha tudo para ser doloroso para alguém.
Porra, trair com uma mulher era foda. O que será que passara na cabeça de Diedra para ter essa atitude? Ele a viu sair de um motel escondido no meio da zona mais rica da cidade... Na hora, putz, ficou muito chateado! A vontade dele era arrancar os mamilos de alguém. Onde já se viu? Sua mulher saindo com outra mulher! Era um disparate! Quem ela achava que era? 
O relacionamento deles, como a maior parte desses arranjos, só tinha funcionado até ali porque as regras estavam sendo seguidas. Ele ainda lembrava de quando tinham feito aqueles combinados durante um das suas brigas, 
A regra principal era bem simples: um não podia ver o outro com alguém. Eles podiam, logicamente, ficar com outras pessoas, desde que essa regra não fosse quebrada. Para o melhor funcionamento, eles decidiram que seria melhor para todo mundo se um não soubesse do outro. Ocasionalmente Daniel esquecia e deixava passar na frente de sua mulher alguma escapadela com  uma ruiva dos peitões, ou uma filipina bocuda. Óbvio que Diedra o perdoava, ela o entendia. Sabia que era mais forte que ele. 
Daniel, aquela noite, retomou as lembranças da discussão mais pesada que tiveram. Ele achava que tinha deixado claro o que achava de mulheres que ficavam com outras pessoas. Quando começaram a se relacionar, ele deixou bem as claras as regras
- O nosso  relacionamento é a prova de traição! O meu relacionamento é com você e o seu, claro, é comigo! 
Ela meneou a cabeça.
-  Lógico, eu não sei como você vai conseguir ficar com outros homens, né? - disse displicente - Seria meio que putaria. Não que eu esteja dizendo que você seria puta se fizesse isso, longe de mim... Só seria estranho para você, né?
Diedra tinha balançado a cabeça negativamente... Isso significava que sim, ela tinha entendido. Quando ele a viu saindo com a mulher do motel, seu sangue ferveu. Rapidamente ele voltou para casa e esperou por ela. Cheirando a sexo, Diedra entrou em casa e foi recebida por Daniel, que tinha acabado de abrir uma garrafa de uísque. 
- Sua vadia! O que você acha que meus amigos iriam dizer se encontrassem minha mulher por aí com aquela chupadora de bucetas, hein?
Ela chorou. Precisava que ela ficasse calada. Não se conteve, ela não fazia nada certo! 
Quando a fivela de seu cinto tocou a pele do pescoço dela instantaneamente ganhou tom vermelho sangue, que coisa maravilhosa! Usou o cinto para apertar um pouquinho o pescoço dela. Era só uma brincadeirinha, só para ver o quanto ela resistia. Por mais que ela dissesse que não queria ir para a cama com ele, foda-se, ele tava com tesão. Ela tinha se aliviado com a outra vadia, não é? Ele também merecia! Alguns socos depois, já com as pernas dela amarradas, teve o melhor sexo de sua vida. As promessas de que ela nunca mais ficaria com ninguém a não ser ele foram reconfortantes. Ela tinha perdido o interesse nessas coisas, ele podia assegurar qualquer um. Ela chorava... de felicidade, não interprete errado. 
Algo mudara realmente na vida dos dois. Diedra aprendeu o papel da mulher num relacionamento não monogâmico, não com aquelas radifêmis que diziam que a não monogamia era para as mulheres, afinal os homens sempre foram assim; mas com seu macho... 
Diedra é uma mulher feliz para a sociedade. Pouco importa o que ela sente. 
Daniel é um homem esclarecido e que luta por um mundo melhor. O mundo dele.