Reflexão da Semana

A paixão da sua vida
( Marina Colasanti)
Amava a morte. Mas não era correspondido.
Tomou veneno. Atirou-se de pontes. Aspirou gás. Sempre ela o rejeitava, recusando-lhe o abraço.
Quando finalmente desistiu da paixão entregando-se à vida, a morte, enciumada, estourou-lhe o coração.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Escarlate

            O sol, em suma majestade beijava as águas cálidas do mar. Ah, as águas avermelhadas no fim de tarde, bem morninhas... Um deleite aos poucos presentes.
            Deitados na areia, um casal admirava a incrível cena do por do sol: teria algo mais romântico? Ele deitou-se ao lado de sua amada mordiscando, de leve, seus seios nus.
            – Minha querida, não sabes o quanto esperei por isto.
            Ela gemia. Ele gemia. O movimento, que a princípio acompanhava os vai e vem das ondas, se acelerou. Os gemidos eram cada vez mais audíveis, ou pelo menos seriam se houve mais alguém na praia deserta.
            Ele levantou-se cuidadosamente, enquanto ela continuou deitada, quase imóvel. Sem graça, ele falou:
            – Desculpe meu amor, me empolguei e quase te matei de cansaço!
            Ela suspirou.
            – Vou buscar algo para nós. Fique aqui que eu já volto. Prometo!
            Ela ofegou. Ele saiu.
            As amarras serviam quase como um torniquete: estancaram o sangue que deveria sair das diversas fraturas de seu corpo. De fato, sangrando ela não estava, mas a dor era atordoante. Suas pernas, ainda abertas, tremiam descontroladamente.
            Ela percebeu um movimento ao longe, pelo canto do olho. Um calafrio percorreu sua coluna. Ele tinha voltado.
            – Amada minha! – disse – Ficas ainda mais linda à luz do luar...
            Ela estava pretificada de medo, gemendo e chorando.
            Ele se irritou:
            – Para com isso! – deu-lhe um chute nas costelas – Eu juro que é a última vez que eu pego a merda de uma muda! Nem implorar pela própria vida ela consegue!
            Arriou sua calça e pulou em cima dela. Gritando, ou pelo menos tentando, Dalila fazia o possível para se livrar da dor... Quando terminou, ele levantou-se limpando os fluídos que escorriam por suas pernas.
            – Eu odeio você! Nunca mais quero vê-la!
            Aliviada, Dalila pensava que pelo menos ia morrer logo e, assim, ficar livre daquele tormento. A dor estava insuportável, mas ela estava serena: aquilo ia acabar. Desmaiou.
            Algo estava errado. A dor em suas costas estava incrivelmente forte. Bichos andavam sobre ela, maria-farinhas se deleitavam em seus nervos da coluna.
            Sobreviveu por muitas horas, ainda. Quando enfim abraçou a morte, as areias já estavam vermelhas pelo sangue de outra garota.

Nenhum comentário:

Postar um comentário