Reflexão da Semana

A paixão da sua vida
( Marina Colasanti)
Amava a morte. Mas não era correspondido.
Tomou veneno. Atirou-se de pontes. Aspirou gás. Sempre ela o rejeitava, recusando-lhe o abraço.
Quando finalmente desistiu da paixão entregando-se à vida, a morte, enciumada, estourou-lhe o coração.

domingo, 23 de agosto de 2015

Daniel é só mais um filho da puta

Apesar da noite anterior, tudo seria bom nesse novo dia. O fato é que quando Daniel acordou, sentiu que tudo estava diferente. A paz reinava na casa. Os raios de sol adentrando no quarto pelo janela deixaram o quarto branco ainda mais acolhedor e iluminado, como se a luz viesse dele, não do astro-rei.
Na cama, deitada ao lado de Daniel, estava Diedra. Linda e doce, pela alva, quase sem sangue correndo pelas veias, ela completava a imagem como se fosse um quadro pintado por algum pintor famoso. Ela era excepcional, sem dúvidas: incrivelmente linda, ardentemente sensual e habilmente calada. Perfeita. 
Ele descobriu que a amava. 
Um casal de capa de revista. Daniel faria tudo para ficar com ela, todos admiravam essa atitude dele. A priori, quando ele começou a se afirmar como fazendo parte de um relacionamento não monogâmico, seu ciclo de amigos, claro, ficou em choque. Isso não era algo comum, era coisa ou de riponga ou dessa galera mais pra frentex. De qualquer maneira, quando ele explicou para as pessoas ao seu redor como era o relacionamento, seus amigos ficaram muito satisfeitos. Com certeza era algo proveitoso...
Explicar como funcionava o relacionamento também foi algo primordial para o relacionamento propriamente dito. Diedra nunca se relacionara dessa maneira e era esperado que Daniel explicasse e que ela aceitasse. 
Tudo corria às mil maravilhas. Ele lembrava como praticamente só teve bons momentos ao lado de Diedra. E das outras meninas também. E alguns garotos, quando o vinho batia. 
Então, Diedra pisou na bola.
Tudo foi rapidamente resolvido, ele não chegou a sofrer...
Não entenda mal, ele não era de todo perfeito.Tinha ainda um pouco do ciúme que a sociedade imbrica na gente, mas entenda que ele não espera pegá-la no ato, como acontecera ontem. Não... Ocorreu por acaso e por isso tinha tudo para ser doloroso para alguém.
Porra, trair com uma mulher era foda. O que será que passara na cabeça de Diedra para ter essa atitude? Ele a viu sair de um motel escondido no meio da zona mais rica da cidade... Na hora, putz, ficou muito chateado! A vontade dele era arrancar os mamilos de alguém. Onde já se viu? Sua mulher saindo com outra mulher! Era um disparate! Quem ela achava que era? 
O relacionamento deles, como a maior parte desses arranjos, só tinha funcionado até ali porque as regras estavam sendo seguidas. Ele ainda lembrava de quando tinham feito aqueles combinados durante um das suas brigas, 
A regra principal era bem simples: um não podia ver o outro com alguém. Eles podiam, logicamente, ficar com outras pessoas, desde que essa regra não fosse quebrada. Para o melhor funcionamento, eles decidiram que seria melhor para todo mundo se um não soubesse do outro. Ocasionalmente Daniel esquecia e deixava passar na frente de sua mulher alguma escapadela com  uma ruiva dos peitões, ou uma filipina bocuda. Óbvio que Diedra o perdoava, ela o entendia. Sabia que era mais forte que ele. 
Daniel, aquela noite, retomou as lembranças da discussão mais pesada que tiveram. Ele achava que tinha deixado claro o que achava de mulheres que ficavam com outras pessoas. Quando começaram a se relacionar, ele deixou bem as claras as regras
- O nosso  relacionamento é a prova de traição! O meu relacionamento é com você e o seu, claro, é comigo! 
Ela meneou a cabeça.
-  Lógico, eu não sei como você vai conseguir ficar com outros homens, né? - disse displicente - Seria meio que putaria. Não que eu esteja dizendo que você seria puta se fizesse isso, longe de mim... Só seria estranho para você, né?
Diedra tinha balançado a cabeça negativamente... Isso significava que sim, ela tinha entendido. Quando ele a viu saindo com a mulher do motel, seu sangue ferveu. Rapidamente ele voltou para casa e esperou por ela. Cheirando a sexo, Diedra entrou em casa e foi recebida por Daniel, que tinha acabado de abrir uma garrafa de uísque. 
- Sua vadia! O que você acha que meus amigos iriam dizer se encontrassem minha mulher por aí com aquela chupadora de bucetas, hein?
Ela chorou. Precisava que ela ficasse calada. Não se conteve, ela não fazia nada certo! 
Quando a fivela de seu cinto tocou a pele do pescoço dela instantaneamente ganhou tom vermelho sangue, que coisa maravilhosa! Usou o cinto para apertar um pouquinho o pescoço dela. Era só uma brincadeirinha, só para ver o quanto ela resistia. Por mais que ela dissesse que não queria ir para a cama com ele, foda-se, ele tava com tesão. Ela tinha se aliviado com a outra vadia, não é? Ele também merecia! Alguns socos depois, já com as pernas dela amarradas, teve o melhor sexo de sua vida. As promessas de que ela nunca mais ficaria com ninguém a não ser ele foram reconfortantes. Ela tinha perdido o interesse nessas coisas, ele podia assegurar qualquer um. Ela chorava... de felicidade, não interprete errado. 
Algo mudara realmente na vida dos dois. Diedra aprendeu o papel da mulher num relacionamento não monogâmico, não com aquelas radifêmis que diziam que a não monogamia era para as mulheres, afinal os homens sempre foram assim; mas com seu macho... 
Diedra é uma mulher feliz para a sociedade. Pouco importa o que ela sente. 
Daniel é um homem esclarecido e que luta por um mundo melhor. O mundo dele.

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