Reflexão da Semana

A paixão da sua vida
( Marina Colasanti)
Amava a morte. Mas não era correspondido.
Tomou veneno. Atirou-se de pontes. Aspirou gás. Sempre ela o rejeitava, recusando-lhe o abraço.
Quando finalmente desistiu da paixão entregando-se à vida, a morte, enciumada, estourou-lhe o coração.

segunda-feira, 27 de março de 2017

[Resenha] 70 vezes 7 - Drika Duarte

Finalmente, depois de um ano trabalhando com Drika, li um livro dela. E cara... que livro!
70 vezes 7 é um livro de poemas, publicado em 2010. Em sua obra, a poetiza trata de
diversos temas, partindo da premissa da resposta de Jesus sobre o perdão.

Vamos à estrutura

Os poemas foram pensados em sete versos. São setenta poemas de sete versos cada, a maioria em duas estrofes - um quarteto e um terceto; outros em três estrofes ou quatro estrofes. Os versos são livres e a cada nove conjuntos de versos, a poetisa escrevia um acróstico reforçando a ideia do perdão.
O livro é muito bem acabado, com uma capa interessante. Os poemas estão ordenados seguindo os números romanos.

Temáticas recorrentes

Os poemas não trazem somente a temática explícita do perdão, temas como respeito ao planeta, espiritualidade, morte, essência da vida são bem visíveis. Um dos que mais me tocaram falava sobre o que eu interpretei como a perda de um bebê. Lindamente triste e pesado. Divino.

Poemas prediletos

Me apaixonei por vários poemas, mas escolhi os três que mais me tocaram para poder colocar aqui.  

XII

Ah coração, conhecedor de injúrias
Da lágrima de paixão de um um olhar dilacerador 
Ah coração, quando traído tu és a dor
Com que o traidor formula a falsa jura!

Ah coração, esquece que foste enganado
Quem engana já está por si atormentado
E quem perdoa já de ter um coração alado.

[DUARTE, Drika. 70 vezes 7. Natal: Drika Duarte, 2010, p. 39.]

XIX

Quando senti o gosto da fome
Perdi o senso, esqueci o nome
Que terias neste mundo cruel
E assumi a dor de um coração infiel. 

Hoje, cada lágrima que chorei
Foi para regar o solo de onde arranquei
A flor mais bela que em mim gerei.

[ p. 53]

XXXVIII

Um dia a pele se enruga, a mão envelhece, 
O impulso jovial não mais se reconhece
Nos cabelos brancos em que a sabedoria se ergue...

Os anos angariados trouxeram solidão
E a simples alegria da doce sensação
De que a vida faz chorar ensinando a sorrir
E a amar todos aqueles que não te querem aqui.

[p. 91]

Minha opinião

Marcações que fiz ao longo da leitura
Não sou uma leitora frequente de poemas, mas sei apreciar quando a poesia emana pelos versos. Fiquei encantada com quase todos os poemas desse livro, muitos me emocionaram de maneira única. Alguns eu não gostei tanto, mas esses foram exceções. Ainda que sejam delicados em sua maioria, a análise minuciosa de algumas leituras mais aprofundadas mostram elementos antes despercebidos. O livro tem um ritmo, um perfume... é estranho de explicar como me tocou.
Aliás, mais do que um livro sobre perdão, acho que Drika conseguiu produzir um livro sobre a esperança...
Num mundo tão ardiloso como o que vivemos, ler algo sobre esperança e perdão desperta reflexões tão profundas e, ao mesmo tempo, encantadoras: que mais é o perdão que a esperança de aprender com os erros... a esperança de não mais errar?

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