Sobre contos de fadas, noção de infância e ideal de mulher.

Tenho percebido certa efervescência relacionada aos contos de fadas por causa do filme Malévola, da Disney. Eu ainda não assisti o filme, mas tenho lido comentários sobre ele, o que tem me deixado muito feliz por diversos motivos.
Mas vamos com calma.
Decidi fazer um pequenino apurado sobre os contos que hoje são lidos para crianças, com base em algumas afirmações que eu mesma fazia antes de estudar sobre:

"Contos de fadas são coisas para crianças e pessoas bobas."

Ledo engano. As versões românticas da Disney, e de outros re-contadores¹ são as versões mais 'suaves' dos contos originais. Se os contos estivessem em sua forma primeira, a vaquinha aí morreria assustada. Calma, Mimosa! (Mulan, feelins! Hehe), muita gente resistiria em ler para os seus filhos, por serem mais contos de terror do que de fadinhas bonitinhas e fofinhas. Até mesmo a noção de criança, naquela época, é toooootalmente  diferente da que temos agora, por exemplo: Hoje nós achamos absurda a ideia de uma criança engravidar. Antigamente, o que hoje é pedofilia, antes era completamente recomendável.

"Os contos de fadas sempre têm finais felizes"

Balela. Os contos de fadas originais não tinham essa visão de que sempre tudo acabava bem. Desencana! A pequena sereia NÃO viveu feliz para sempre; as irmãs da Cinderela perderam o dedão e o calcanhar ao tentar enganar o príncipe; a Bela adormecida foi estuprada e a mãe do seu marido era uma ogra que queria ver a menina arder no mármore do inferno, mas seu filho chegou a tempo e jogou a própria mãe na caldeira; A Branca de Neve, felizarda, foi um dos primeiros casos de poligamia que favorece a mulher: uma mulher para vários homens (ainda que anões); A Chapeuzinho Vermelho comeu e bebeu sua própria avó, além de tirar sua roupa para se deitar na cama com o Lobo Mal; Rapunzel terminou com seu bebê num deserto e seu príncipe, cego, perdeu tudo para tentar concretizar um amor...

"A bruxa é má e a fada é sempre boa"

Aaaaaaaaaaaaaah, não. A bruxa nada mais é que uma fada que, por algum motivo, começou a colocar o desejo altruísta de lado e começou a pensar em si mesma. Era aquela mulher que lutava pelos seus ideais... a mulher que colocava seu desejo de poder, sua ambição em primeiro lugar... E, por isso, Era vista como má.

Aliás, cabe aqui uma reflexão do papel da mulher nos contos de fadas. Podem observar: em 90% dos contos ou a mulher é a vilã ou a mulher é a vítima. Raramente a mulher é posta enquanto heroína! Nos contos que eu citei acima:

1. A Pequena Sereia -  A sereiazinha é a coitadinha que decide que o seu amor merece viver feliz. E se mata para que isso aconteça. (essa é uma exceção)
2. Cinderela - Uma pobre menina rica que é salva pelo poder do dinheiro e de sua beleza incrível, enquanto sua família, composta de mulheres puramente ambiciosas, se despedaça, literalmente, por dinheiro. 
3. A Bela Adormecida - Coitada, essa sofreu o pão que o djabo amassou: Foi estuprada durante o coma, engravidou, teve filhos... O príncipe (que havia estuprado), decidiu assumir seu papel enquanto pai das crianças. A sogra da bela era uma jararaca (não literalmente, na verdade ela era uma ogra), decide COMER as crianças e dizer por príncipe que um acidente aconteceu. Acaba assassinada pelo próprio filho, que sem nem pestanejar, joga a mãe num caldeirão. Supimpa.

A verdade é que essa literatura é importante para que às crianças cresçam, aprendam e se apreciem a literatura, seja ela infantil ou não. 

Beijos da tia Lary.

¹ Os contos de fadas, assim como os mitos e os contos maravilhosos, são o extrato oral de um povo perpetuado através da escrita para a posteridade.