Hoje estou fazendo dois meses de
Estado. Ainda não recebi nenhum centavo, então nada de festa para mim, mas já
aprendi tanto... se eu tinha alguma dúvida de que eu mereço ser educadora,
essas dúvidas se foram.
Os primeiros dias foram difíceis:
parecia que eu tinha voltado no tempo e desaprendido a dar aula. Me lembrei de pessoas falando:
- Você precisa se impor! Se eles
não lhe respeitarem a culpa é sua!
Laryssa? Impondo alguma coisa? Sério
que eu pensei que isso seria uma boa ideia? Kkkkkkkkkk
Mas, fui lá. Rígida! Dura! Dois
minutos de aula e eu só queria sair correndo da sala. Eu não acreditava nas
minhas próprias palavras, quanto mais os alunos. Meti moral! Pela primeira vez
na minha vida eu gritei; coloquei aluno pra fora... super imponente. Desmoronando
por dentro.
As turmas eram difíceis (doce
ilusão pensar que alguma turma é fácil... ah, eu tenho tanto a crescer
ainda...). Mais difícil era lutar comigo mesmo.
Eu nunca vou esquecer do dia em que
eu sai despedaçada de uma das minhas turmas e, na sala dos professores, duas
pessoas que eu nem sei o nome me deram o conselho que eu precisava: conquiste
os alunos pelo amor, não pela regra! Lembrei automaticamente dos conselhos de
um dos meus amigos, também do estado, Márcio: você precisa ganhar o respeito
sendo você.
Então? Partiu ser eu mesma.
Ficou menos difícil, bem mais
prazeroso, mas ainda tenho dificuldades: em uma das escolas a turma é muuuuuito
grande e indisciplinada. Não se interessam por filme, música, literatura...
nada do que eu tenha levado dá certo. (aceito sugestões). Ah, nessa mesma
turma, uns 15 alunos não sabem ler nem escrever. Aliás, como diabos eu posso
encarar minhas turmas, cuja maioria é formada por meninas e não poder falar
sobre machismo? Principalmente quando eu mesma fui vítima EM SALA DE AULA de
uma “brincadeira” machista? A culpa do assédio que aconteceu na minha sala,
comigo, no meu corpo, é de quem? E ainda querem que fiquemos caladas... que
essa história de falar sobre gênero em sala de aula, só se for gênero textual!
Falar sobre machismo? MISOGINIA? Feminicídio? Homofobia? Jamais!!! Enfim...
isso é papo pra outro momento.
Descobri coisas que eu nunca tinha
pensado na minha vida: diretora de escola realmente preocupada com o aluno? Diretora
de escola que defende o professor quando ele tá certo? Sororidade? Cara, lindo
demais!
Tive certezas sobre a importância
de uma educação de qualidade... sobre como a educação modificar as coisas ao
redor, mas sem ser a salvadora da pátria: não precisa ter essa pretensão.
Enquanto pessoa, descobri que
empatia é mais importante que simpatia: se colocar no lugar do outro é tratar o
outro como igual, como pessoa, como alguém com potenciais diversos. Empatia pode
trazer o melhor da pessoa para fora da casca da dor...
E ontem recebi de presente algo que
todo educador quer: uma turma de 21 alunos v-i-d-r-a-d-a na aula! Todos os
alunos participaram, todos os alunos saíram da sala sabendo identificar e
compreender a importância dos sujeitos na sintaxe e na vida. Tem coisa melhor?
Em dois meses de aula no Estado
descobri tanto sobre o mundo e sobre a vida. Acabei de lembrar de Adélia Prado “dor
não é amargura”... nunca vivi algo tão real quando esse verso. Que daqui a dois
meses, dois anos, duas décadas, dois séculos (ei eu posso reencarnar, uai :p)
eu possa olha para minha vida e sentir exatamente o que sinto agora: gratidão e
amor – por mim, pelos meus alunos e por minha profissão.
Uma excelente tarde a todos e
beijooooos da tia Lary \o/
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