Reflexão da Semana

A paixão da sua vida
( Marina Colasanti)
Amava a morte. Mas não era correspondido.
Tomou veneno. Atirou-se de pontes. Aspirou gás. Sempre ela o rejeitava, recusando-lhe o abraço.
Quando finalmente desistiu da paixão entregando-se à vida, a morte, enciumada, estourou-lhe o coração.

sábado, 7 de maio de 2016

Sobre tudo, sem falar nada direito

Hoje estou fazendo dois meses de Estado. Ainda não recebi nenhum centavo, então nada de festa para mim, mas já aprendi tanto... se eu tinha alguma dúvida de que eu mereço ser educadora, essas dúvidas se foram.
Os primeiros dias foram difíceis: parecia que eu tinha voltado no tempo e desaprendido a dar aula. Me lembrei de  pessoas falando:

- Você precisa se impor! Se eles não lhe respeitarem a culpa é sua!

Laryssa? Impondo alguma coisa? Sério que eu pensei que isso seria uma boa ideia? Kkkkkkkkkk

Mas, fui lá. Rígida! Dura! Dois minutos de aula e eu só queria sair correndo da sala. Eu não acreditava nas minhas próprias palavras, quanto mais os alunos. Meti moral! Pela primeira vez na minha vida eu gritei; coloquei aluno pra fora... super imponente. Desmoronando por dentro.
As turmas eram difíceis (doce ilusão pensar que alguma turma é fácil... ah, eu tenho tanto a crescer ainda...). Mais difícil era lutar comigo mesmo.
Eu nunca vou esquecer do dia em que eu sai despedaçada de uma das minhas turmas e, na sala dos professores, duas pessoas que eu nem sei o nome me deram o conselho que eu precisava: conquiste os alunos pelo amor, não pela regra! Lembrei automaticamente dos conselhos de um dos meus amigos, também do estado, Márcio: você precisa ganhar o respeito sendo você.

Então? Partiu ser eu mesma.

Ficou menos difícil, bem mais prazeroso, mas ainda tenho dificuldades: em uma das escolas a turma é muuuuuito grande e indisciplinada. Não se interessam por filme, música, literatura... nada do que eu tenha levado dá certo. (aceito sugestões). Ah, nessa mesma turma, uns 15 alunos não sabem ler nem escrever. Aliás, como diabos eu posso encarar minhas turmas, cuja maioria é formada por meninas e não poder falar sobre machismo? Principalmente quando eu mesma fui vítima EM SALA DE AULA de uma “brincadeira” machista? A culpa do assédio que aconteceu na minha sala, comigo, no meu corpo, é de quem? E ainda querem que fiquemos caladas... que essa história de falar sobre gênero em sala de aula, só se for gênero textual! Falar sobre machismo? MISOGINIA? Feminicídio? Homofobia? Jamais!!! Enfim... isso é papo pra outro momento.

Descobri coisas que eu nunca tinha pensado na minha vida: diretora de escola realmente preocupada com o aluno? Diretora de escola que defende o professor quando ele tá certo? Sororidade? Cara, lindo demais!

Tive certezas sobre a importância de uma educação de qualidade... sobre como a educação modificar as coisas ao redor, mas sem ser a salvadora da pátria: não precisa ter essa pretensão.

Enquanto pessoa, descobri que empatia é mais importante que simpatia: se colocar no lugar do outro é tratar o outro como igual, como pessoa, como alguém com potenciais diversos. Empatia pode trazer o melhor da pessoa para fora da casca da dor...

E ontem recebi de presente algo que todo educador quer: uma turma de 21 alunos v-i-d-r-a-d-a na aula! Todos os alunos participaram, todos os alunos saíram da sala sabendo identificar e compreender a importância dos sujeitos na sintaxe e na vida. Tem coisa melhor?

Em dois meses de aula no Estado descobri tanto sobre o mundo e sobre a vida. Acabei de lembrar de Adélia Prado “dor não é amargura”... nunca vivi algo tão real quando esse verso. Que daqui a dois meses, dois anos, duas décadas, dois séculos (ei eu posso reencarnar, uai :p) eu possa olha para minha vida e sentir exatamente o que sinto agora: gratidão e amor – por mim, pelos meus alunos e por minha profissão.



Uma excelente tarde a todos e beijooooos da tia Lary \o/

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